quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

...na cabeça de um recém falecido

Fui encontrado morto hoje por volta das dez e quinze da manhã.
Os primeiros que chegaram, e não viraram o rosto, presenciaram algo estapafúrdio. Era meu corpo, cinza, retorcido, cheio de hematomas mas...com um sorriso largo na face.
Disseram para meus familiares que foi suicídio. Eu duvido. Os hematomas estão lá para apontar o contrário. Pernas, braços, principalmente nas costas. Sinais claros de espancamento seguido de um empurrãozinho maroto rumo ao vazio de fora do prédio.
Mas então, porque o sorriso me cobria a feição?
Descobri que morto não tem memória. É claro, o HD ficou na cabeça rachada no passeio. Nem o funcionário de TI mais nerd e excluído das rodas sociais da melhor empresa de softwares daria um jeito nele.
Como deve ter se dado a minha morte? Um mistério tão misterioso quanto a minha vontade de investigar o fato. Sei lá, as coisas parecem tão mais simples agora. Fico aqui flutuando, vendo gente, viajando o mundo...tô nem aí para o resto.
Pensei em me importar quando vi minha mãe e meus amigos chorando no meu enterro. Só pensei porque achei graça. É, bicho, achei graça. Acho que tudo o que me faria ficar triste ou chateado ficou no corpo, lá no HD danificado. Conclusão: nem esperei que me enterrassem e fui curtir o jogo do Botafogo no (new) Maracanã.
Pois é, do Glorioso eu não esqueci!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

...os afetos se confundem



Ele acorda de manhã e me dá ‘bom dia’ antes mesmo de levantar.
Durante o (rápido) café da manhã fico sabendo de toda a sua programação do dia e recebo um beijo, um abraço e desejos sinceros para que meu dia seja tão feliz quanto o dele.
No trabalho ‘tá chato’, ele me confidencia, ‘a chefe não larga do meu pé’ e torce pro tempo voar. (Para me encontrar, talvez?!).
‘Hora do almoço’ e estou com ele à mesa. Discutimos a manhã com o alívio de ter se passado um dia inteiro. Ele termina antes de mim. Eu acelero as garfadas quando ele me da um beijo e chama. ‘Bora pra facul!!!!’
Chegamos juntos à universidade e ‘que sorte!’ (só que não!) ‘a professora não veio’. Antes de cogitar minhas opções ele lê meus pensamentos. Tudo pronto, ‘carona com o parceiro Marcelo Tuta’, quando percebo já ganhei outro abraço. ‘Partiu PRAIA!!!’. Não teve como não curtir a ideia.
Além do Marcelo uma amiga apareceu para engrossar o ‘bonde’. Fico na minha, de longe, observando. Sorrisos lindos e gargalhadas gostosas brotam dos três como se não houvesse um segundo da vida em que não fossem felizes. Vejo a alegria saltar dos seus olhos quando, abraçado a amiga, tomam um ‘caixote na hora errada!’. Eu rio.
Como previsto ‘um puta transito na volta pra casa’. Sabendo que ia chover (será que ele vai ficar bravo por eu não ter avisado?), levei guarda chuva e cheguei seca e triste em casa. Ele, como ‘ainda nem sabia dessa chuva de fim de tarde’, chegou molhado e feliz em casa. Sem comentários.
Tomo um banho e penso nele. Neles. Não! Vou estudar. Mas ele não deixa. ‘Vamos nessa festinha?’. Eu não vou! Ele vai. (Ela também). Eu sei e não quero ver. Ele me abraça e deseja boa noite. Eu não comento.
Dou um abraço em meus amigos e lhes digo como são especiais com uma foto bem brega de dois ursinhos se abraçando, ‘Nossa #amizade é o que me dá forças!’.
#sextaemcasa #boanoite

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

...em uma publicação especializada

A mortalidade de traças é alarmante.
São arrancadas de seus casulos alpinistas sem mandados de despejo, a chineladas. Insetos aguerridos, chateiam havaianas no dia seguinte um palmo acima da marca alcançada anteriormente. Lentas, as traças, não podem ser acusadas de medrosas pois se esquivam e lutam até o fim.
Porque esse apego todo a possibilidade, sempre remota, de nascer? A resposta é duvidosa.
Alguns especialistas no MIT afirmam que "dadas as circunstancias adversas, as traças desenvolvem um senso intelectual de sobrevivência". Como? Estudantes de microbiologia da Universidade de Joanesburgo, cidade conhecida pela comercialização de traças como alimento para os moradores do distrito 9, descobriram em testes recentes o poder de absorção de conteúdo acadêmico/intelectual pelo inseto e sua predisposição a sinterizar o conteúdo de modo a "enriquecer" sua vida. "Notamos que a qualidade do papel é fator determinante para a alimentação da traça (...) mas pode ser ignorado dependendo do seu conteúdo".
Uma experiência curiosa foi a origem de um estudo elaborado do caso por um aluno de insetologia dinamarquês de passagem pelo rio de janeiro. Morador de um "apartamento" (apelidado de Bunker de Bicho pelo próprio estudante) na Lapa, o rapaz observou com atenção a interação das tracas com seu material de estudo. "Meus livros sobre insetos eram devorados com avidez pelas pequeninas. Até ai, previsível, a pesar dos livros serem em dinamarquês. O que me impressionou, alem da facilidade de entendimento de uma língua estrangeira, foi que a bíblia velha da senhoria foi devorada lentamente, porem só o capitulo da gênesis. Depois elas buscavam algo mais tranquilo. Destruíram o On The Road e sumiram". Apos esse caso o rapaz fez das tracas seu objeto de estudo e procura por sebos baratos para repor os livros, mas não pretende se mudar do "bunker".

Novos horizontes para esse inseto guerreiro e com mania de escalar paredes antes mesmo de nascer tem se revelado a cada novo estudo realizado. O próximo, inclusive, tem tudo para chocar a comunidade cientifica. É possível que as tracas sejam, na sua fase adulta (cerca de 1 dia e meio apos a eclosão do casulo), tão inteligentes quanto golfinhos e mais radicais que humanos adultos do sexo masculino frequentadores de happy hours.

domingo, 14 de julho de 2013

...em um chalé

Era velho.
A muito as lembranças tinham abandonado seus sorrisos.
Mexia-se com a dificuldade comum aos de idade avançada e sem muitos exercícios físicos no curriculo do corpo.
Era mais um dia de pouco sol e muitas nuvens. Mas aquilo importava tanto quanto o genocídio de formigas provocado por um tamanduá bandeira no formigueiro do matagal atras do seu chalé. Na realidade nada mais importava.
Sua cabeça era uma mistura de massa cinzenta, poucos cabelos e uma noção cabal de que tudo aquilo deveria estar para acabar. Não havia mais nada com o que se preocupar.
Parentes, amigos da faculdade, padrinhos de casamento, colegas de trabalho. Todos se foram.
Mortos? Talvez. Aquilo também era de parca importância.
Sua vida (não gostava de chamar 'aquilo' de vida) tinha os mesmos centímetros a tanto tempo que já não sabia mais onde começava. Às vezes parecia ontem. Às vezes parecia desde sempre.
Conseguia apenas recordar do dia em que comprara aquele chalé no meio do mato. Lembrava de como seu filho o xingou por ter "torrado toda a grana" que ele planejava usar em mais uma de suas viagens. Lembrava agora nitidamente do sorriso que deu quando o moleque bateu a porta e de como se sentiu vitorioso ao lançar uma ousada 'banana' pelas suas costas.
Quanto tempo tinha passado.
Quantos planos tinha feito.
Pensava em passar o resto dos seus dias cuidando de bichos e plantas, de plantar sua própria comida, de admirar as estrelas à noite, de reverenciar o Sol a toda manhã.
E de dizer a ela um sincero 'Eu te amo' todos os dias, até o fim.
Poeira e passado, agora era tudo o que tinha.
Abandonado por si e pelos seus, só fazia respirar, dormir e acordar.
Não era do tipo que esperava pela morte praguejando como tudo era uma merda e questionando como tudo foi parar ali, daquele jeito. Era oco demais para aquilo. Tinha sido feliz demais para terminar desse jeito.
Seus olhos verdes guardavam a mesma força do garoto que aos 13 subia árvores para saborear maduros frutos. Ou seria imaginação?!
Olhava para tudo com muito carinho, mas não via nada.
Passava a maior parte do tempo na cadeira de balanço da varanda, onde fazia o desjejum todos os dias e se balançava até pegar no sono afagado pelo brilho da Ursa Maior, sua estrela favorita.
Quando dentro de casa, aproveitava a tal força nos olhos para ler livros e bulas de remédios com data de validade vencida. Nem sempre terminava os livros pois não lembrava nunca o contexto de onde tinha parado na estória, mas sempre terminava as bulas e sorria ao lembrar que sempre odiou química.
O único humano com quem tinha "contato" era um adulto que sua filha contratara para levar-lhe comida, livros e remédios uma vez por semana. O homem era tão silencioso que ele supunha também ser mudo, já que nunca falou uma palavra. Sempre chegava quando estava dormindo. Talvez não fosse curioso, podia ser isso. Nunca quis saber quem era o velho que alimentava. Ele também nunca se importou com isso.
No meio de outra manhã fria de todas aquelas que já viveu na vida, acordou coberto em sua cadeira de balanço. Estranhou o calor do pano que o cobria. Tinha calor humano.
Olhou para o lado e viu um sorriso. Sentiu o mesmo calor lhe esfregar os pés, as mãos e as bochechas, que coraram em seguida. Era um sorriso largo, bonito, branco, cativante e familiar. Nunca teve tempo para recordar de onde vinha aquele sorriso tão confortável, mas tinha certeza que já o havia amado em algum momento belo de sua jornada.
Sentiu sua própria boca retorcer-se, como se quisesse se comunicar com aquele sorriso. Sorriu de volta (ou pensou que o fez).
Nesse instante o céu se abriu em uma imensidão de um azul profundo, estrelas começaram a rasgar o infinito em um show particular para aquele velho sentado e coberto em sua cadeira de balançar. O verde de seus olhos reluziram em alegria e uma lágrima brotou. Ele não chorava a mil anos, podia jurar.
Sentiu no peito que os sorrisos não lhe abandonaram, o seu e o que estava ao seu lado, também testemunha daquele show estelar. Sentiu que nunca mais seria abandonado por ninguém, nem mesmo por si, pelos seus sonhos, pela sua esperança e pela sua juventude.
Após um baque surdo no infinito, seus ouvidos testemunharam a mais bela confusão sonora da história do universo! Por todos os lados só haviam sons, e estrelas, e sorrisos, e vozes, e declarações de amor. Outra lágrima.
Só lhe foi dado o tempo de puxar a coberta para mais perto do pescoço a procura de mais conforto e calor humano e de lembrar toda a sua história de uma só vez em uma fração de segundo.
No segundo seguinte sentiu o peso da vida pressionar suas pálpebras para baixo e encerrar o espetáculo para aqueles jovens verdes olhos para sempre.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

...no ponto final

Sento e espero
Logo o ônibus passa
Olho no papel e confiro o número
Tem dias que não vejo números tão bonitos
e todos juntos, uma beleza!
Passa uma senhora com sua neta
sorrio para as duas
mas é o gato da menina que sorri de volta
espero
Uma pomba aterrissa perto do moço ao meu lado
sem pestanejar ele a chuta pra longe
viro o rosto, dou de cara com um anúncio de shampoo
lindos e sedosos os cabelos da modelo
beleza é tudo nesses dias tão estranhos.
Passa um carro tocando música alta
uma mulher com um bebê no colo tapa os pequenos ouvidos
a criança não espera e chora
mas eu, espero
Finalmente, é ele dobrando a esquina!
Levanto feliz (ele parece ser refrigerado, hoje tá quente)
sou interrompido pela visão mais clara
não, não é esse o número
sento tristonho e volto a esperar
De súbito me assalta o sentimento
de como é triste esperar
que algo bom aconteça
como que o transporte certo apareça
não nascemos para esperar
eis o motivo das pernas
elas estão aqui em baixo para nos levar
nos pôr em movimento
Parar é mais justo que esperar
parados, observamos
esperando, esperamos
e só
nada de verdade acontece
Desperto do devaneio e cá está ele
com seus lindos números me encarando
mas, refém da coerência
deixo a porta se fechar e que ele se vá
Levanto, dessa vez feliz com o motivo certo para seguir em frente
Um menininho cruza meu caminho e sorri pra mim
aparentemente sem motivo me mostra sua arcada incompleta
logo percebo que o motivo é a vida
abrindo uma janela depois da porta que fechou.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

...um parenteses

É oficial: tem alguém querendo falar!
Cruz credo! Nem é noite de Lua cheia, mél déus!
Uma transformação nas linhas de produção de subjetividades, depois de certa hora da noite, traz a tona um formigamento incontrolável numa região do cérebro que tem ligação direta com meus dedos e com um arsenal infinito de irrelevância armazenada.
Aí vai tudo pelos ares, pela rede, pelo google, pelo avesso...
Nunca antes na história dessas mãos que teclam a pressão por conteúdo sem importância foi tão grande...e exigente!

...outra tentativa de frustração.

Da enxurrada que me ocorre a essa hora da noite, a que mais me incomoda é a falta do que falar.
Eu me vejo nessa situação sempre que a angústia vira a esquina da preguiça e cruza a alameda do medo com a marginal insegurança.
Tudo fica meio fosco e os dedos tremem, e o suor ataca os pés, e o tracinho fica piscando por minutos a fio na caixinha branca, e, finalmente, nada sai.
É de uma crueldade sem tamanho. Existe alguém dentro de alguém que prega essa peça comigo, ou com ele mesmo, toda vez.
O que resta a esse monte de carne em demorado estado de decadência é escrever. O resto que se dane!
Mas como posso mandar às favas o alimento da escrita?
Outro dia me ocorreu escrever sobre um cara inseguro sobre a fase da vida a qual atravessa. Esse cara não percebeu que estava na hora de dar um outro rumo para sua vida, que já era bom começar a planejar um casamento, formar uma família e ter filhos. Só que não era bem assim, pensar e escrever. A coisa é complicada.
Pois bem, foi lá e escreveu qualquer coisa sem sentido que pudesse por pra fora a história desse homenzinho imaginário.
O ponto final chegou (transformei em reticências não sei por que) e a angústia não passou.
Puta que pariu! - exclamei com o pé esquerdo enlaçando um fio por debaixo da mesa
Foda-se! - observou o outro membro oficial habitante dessa tal massa corpórea que se expressa
Voltemos! - concordamos todos
Já que a tal suadeira não passou (diferente dos minutos que voaram deixando impossível a leitura de 2 capítulos do livro da cabeceira) eu decidi escrever mais.
Algo diferente me brotou dos neurônios. Escrever sobre escrever sobre escrever!
Gênio! - comemoraram eu, meu teclado e as gerações futuras
De sorriso armado nos lábios, feed de notícias zerado, tracinho piscando, letra D!

(nota do editor: apesar de a angústia ter descido para o fígado em segurança e o quadro clínico ter se mantido estável no processo, o texto ficou uma merda)

...ele continua tapando o Sol com a peneira.

Ele andava muito preocupado ultimamente.
Via que todos os seus amigos, e os amigos deles, e as amigas também, tinham deixado essa chatice de monografias e estágios para trás e só queriam saber de uma coisa: qual o sexo da criança?
Na verdade isso não era a pior parte. Ele até entendia que hoje as coisas andam muito caras e essa informação é de fundamental importância para a montagem do enxoval do pequenino à caminho. O que o assombrava mesmo era o fato de não terem o avisado quando todo mundo tinha derrotado o chefão da fase anterior e tinham passado para a próxima. (Afinal de contas terminar a graduação não é nenhum chefão de coisa alguma, qualquer criança de 21 anos tem um diploma.)
Logo logo ele estará perdendo seus companheiros de furdunço para noites mal dormidas causadas não pelos motivos de sempre, mas por choros estridentes.
Isso estava errado, de algum modo tinha que estar.
Não era de hoje que ele percebia os sinais. Foi assim no final da juventude também. De repente todo mundo passou a fazer sexo e, mais uma vez ninguém o avisara.
Puta falta de sacanagem.
E agora ele não consegue relaxar nem na timeline da sua rede social que logo vem a enxurrada de fotos de joelhos recém nascidos.
Para evitar ser contaminado pela nova modinha resolveu tomar uma medida drástica.
Entrou no amazon e clicou na pré-venda do novo console da Sony...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

...uma criança tola


Como se fosse fácil falar tolices, abriu a boca
AHHHHHHH
Nada saiu.
- Professora! Me explica como ser tolo?
Muito tristinho era seu semblante no instante do olhar dela
Compaixão assimilada, de lado foi posta
Racionalize a criança - salientou sua consciência
Uma dúvida pairava sobre a correção a ser feita.
Importa?! Não!
- Exagere menos, seu lindo! Tolice vem rápido a cada novo aniversário, porem não vista-se assim. Bom mesmo é ser normal.
Você morreria vermelho ao ver a altitude da atitude tomada pelo pequenino.
Aprumou-se, empertigado em seu poleiro de aluno, e desceu o tom uma oitava.
Conforme as palavras saltavam da sua boca feito peixinhos dourados fugindo do ralo, ia tirando sua roupa.
- Blá blá blá reticências
Falta pouco para que se adeque, estou orgulhosa. - insistia a consciência da Professora em informá-la. Ela concordava até que o pequeno rodou a bermuda por cima da cabeça. Algo estava fora do lugar...
Lá ia ele:
- blá blá blá...solenemente vos digo, amiguinhos, sou o docinho de minha mamãe, que se lambuza em redes sociais as custas de minha irretocável belezura. Sou ainda soldadinho de Deus, imaculado, prontinho pro front de batalha, igual no video game.
Sou euzinho ninguém menos que coisa alguma, mistura complicada entre as frustrações do papai e a saudade que mamãe sente de suas bonecas e da vida que nunca vai ter.
Amigos, o futuro nos aguarda! A cada visita do papai noel, um novo brinquedo. A cada desilusão, um novo post. Vamos ser felizes como as ovelhinhas e nossa professora!
No último suspiro do discurso, saiu correndo pelado pela porta da sala à fora com seus amiguinhos em seus  calcanhares e o som da sineta do recreio reverberando nos tímpanos de todos.
Uma lágrima escorria por baixo do olho esquerdo da Professora sem dar pista do sentimento que a gerou. Muito menos seu rosto ao olhar para o relógio na parede informando que já passara da hora...
...do que ela não sabia, mas tinha certeza que estava atrasada.

#01 Estilhaço


"...e o intuito, repare, nunca foi de faltar com a melancolia, ou melhor, a grandiloquência da tristeza que se fez cair naquele tão raro instante de fugaz sentimento semelhante, não tão diferente assim, de alegria. Não mesmo!
Amigos, o que vimos ali a pouco mal passou de um estilhaço de inadequação. Como uma atitude movida por bondosa motivação, porém deslocada de coerência, pode ser tão pertinente quanto um relógio de ponta cabeça?!
Navegando por tais águas concluímos da seguinte forma: há que se vigiar o sorriso de cada um, mesmo o individuo respeitando todos os limites específicos do seu quadrado. Há que se dar um basta às repetidas demonstrações de carinho proeminentes de fatos isolados, mesmo estando os fatos esvaziados de provas. Uma junta de delegados, de moral ilibada, deve seguir observando de longe possíveis excessos no comportamento de certos sorrisos. Não podemos admitir que sujeitos felizes continuem a se comportar e proliferar em nossa sociedade como coelhos.
Basta!"