quarta-feira, 12 de junho de 2013

...no ponto final

Sento e espero
Logo o ônibus passa
Olho no papel e confiro o número
Tem dias que não vejo números tão bonitos
e todos juntos, uma beleza!
Passa uma senhora com sua neta
sorrio para as duas
mas é o gato da menina que sorri de volta
espero
Uma pomba aterrissa perto do moço ao meu lado
sem pestanejar ele a chuta pra longe
viro o rosto, dou de cara com um anúncio de shampoo
lindos e sedosos os cabelos da modelo
beleza é tudo nesses dias tão estranhos.
Passa um carro tocando música alta
uma mulher com um bebê no colo tapa os pequenos ouvidos
a criança não espera e chora
mas eu, espero
Finalmente, é ele dobrando a esquina!
Levanto feliz (ele parece ser refrigerado, hoje tá quente)
sou interrompido pela visão mais clara
não, não é esse o número
sento tristonho e volto a esperar
De súbito me assalta o sentimento
de como é triste esperar
que algo bom aconteça
como que o transporte certo apareça
não nascemos para esperar
eis o motivo das pernas
elas estão aqui em baixo para nos levar
nos pôr em movimento
Parar é mais justo que esperar
parados, observamos
esperando, esperamos
e só
nada de verdade acontece
Desperto do devaneio e cá está ele
com seus lindos números me encarando
mas, refém da coerência
deixo a porta se fechar e que ele se vá
Levanto, dessa vez feliz com o motivo certo para seguir em frente
Um menininho cruza meu caminho e sorri pra mim
aparentemente sem motivo me mostra sua arcada incompleta
logo percebo que o motivo é a vida
abrindo uma janela depois da porta que fechou.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

...um parenteses

É oficial: tem alguém querendo falar!
Cruz credo! Nem é noite de Lua cheia, mél déus!
Uma transformação nas linhas de produção de subjetividades, depois de certa hora da noite, traz a tona um formigamento incontrolável numa região do cérebro que tem ligação direta com meus dedos e com um arsenal infinito de irrelevância armazenada.
Aí vai tudo pelos ares, pela rede, pelo google, pelo avesso...
Nunca antes na história dessas mãos que teclam a pressão por conteúdo sem importância foi tão grande...e exigente!

...outra tentativa de frustração.

Da enxurrada que me ocorre a essa hora da noite, a que mais me incomoda é a falta do que falar.
Eu me vejo nessa situação sempre que a angústia vira a esquina da preguiça e cruza a alameda do medo com a marginal insegurança.
Tudo fica meio fosco e os dedos tremem, e o suor ataca os pés, e o tracinho fica piscando por minutos a fio na caixinha branca, e, finalmente, nada sai.
É de uma crueldade sem tamanho. Existe alguém dentro de alguém que prega essa peça comigo, ou com ele mesmo, toda vez.
O que resta a esse monte de carne em demorado estado de decadência é escrever. O resto que se dane!
Mas como posso mandar às favas o alimento da escrita?
Outro dia me ocorreu escrever sobre um cara inseguro sobre a fase da vida a qual atravessa. Esse cara não percebeu que estava na hora de dar um outro rumo para sua vida, que já era bom começar a planejar um casamento, formar uma família e ter filhos. Só que não era bem assim, pensar e escrever. A coisa é complicada.
Pois bem, foi lá e escreveu qualquer coisa sem sentido que pudesse por pra fora a história desse homenzinho imaginário.
O ponto final chegou (transformei em reticências não sei por que) e a angústia não passou.
Puta que pariu! - exclamei com o pé esquerdo enlaçando um fio por debaixo da mesa
Foda-se! - observou o outro membro oficial habitante dessa tal massa corpórea que se expressa
Voltemos! - concordamos todos
Já que a tal suadeira não passou (diferente dos minutos que voaram deixando impossível a leitura de 2 capítulos do livro da cabeceira) eu decidi escrever mais.
Algo diferente me brotou dos neurônios. Escrever sobre escrever sobre escrever!
Gênio! - comemoraram eu, meu teclado e as gerações futuras
De sorriso armado nos lábios, feed de notícias zerado, tracinho piscando, letra D!

(nota do editor: apesar de a angústia ter descido para o fígado em segurança e o quadro clínico ter se mantido estável no processo, o texto ficou uma merda)

...ele continua tapando o Sol com a peneira.

Ele andava muito preocupado ultimamente.
Via que todos os seus amigos, e os amigos deles, e as amigas também, tinham deixado essa chatice de monografias e estágios para trás e só queriam saber de uma coisa: qual o sexo da criança?
Na verdade isso não era a pior parte. Ele até entendia que hoje as coisas andam muito caras e essa informação é de fundamental importância para a montagem do enxoval do pequenino à caminho. O que o assombrava mesmo era o fato de não terem o avisado quando todo mundo tinha derrotado o chefão da fase anterior e tinham passado para a próxima. (Afinal de contas terminar a graduação não é nenhum chefão de coisa alguma, qualquer criança de 21 anos tem um diploma.)
Logo logo ele estará perdendo seus companheiros de furdunço para noites mal dormidas causadas não pelos motivos de sempre, mas por choros estridentes.
Isso estava errado, de algum modo tinha que estar.
Não era de hoje que ele percebia os sinais. Foi assim no final da juventude também. De repente todo mundo passou a fazer sexo e, mais uma vez ninguém o avisara.
Puta falta de sacanagem.
E agora ele não consegue relaxar nem na timeline da sua rede social que logo vem a enxurrada de fotos de joelhos recém nascidos.
Para evitar ser contaminado pela nova modinha resolveu tomar uma medida drástica.
Entrou no amazon e clicou na pré-venda do novo console da Sony...