quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

...na cabeça de um recém falecido

Fui encontrado morto hoje por volta das dez e quinze da manhã.
Os primeiros que chegaram, e não viraram o rosto, presenciaram algo estapafúrdio. Era meu corpo, cinza, retorcido, cheio de hematomas mas...com um sorriso largo na face.
Disseram para meus familiares que foi suicídio. Eu duvido. Os hematomas estão lá para apontar o contrário. Pernas, braços, principalmente nas costas. Sinais claros de espancamento seguido de um empurrãozinho maroto rumo ao vazio de fora do prédio.
Mas então, porque o sorriso me cobria a feição?
Descobri que morto não tem memória. É claro, o HD ficou na cabeça rachada no passeio. Nem o funcionário de TI mais nerd e excluído das rodas sociais da melhor empresa de softwares daria um jeito nele.
Como deve ter se dado a minha morte? Um mistério tão misterioso quanto a minha vontade de investigar o fato. Sei lá, as coisas parecem tão mais simples agora. Fico aqui flutuando, vendo gente, viajando o mundo...tô nem aí para o resto.
Pensei em me importar quando vi minha mãe e meus amigos chorando no meu enterro. Só pensei porque achei graça. É, bicho, achei graça. Acho que tudo o que me faria ficar triste ou chateado ficou no corpo, lá no HD danificado. Conclusão: nem esperei que me enterrassem e fui curtir o jogo do Botafogo no (new) Maracanã.
Pois é, do Glorioso eu não esqueci!