segunda-feira, 20 de maio de 2013

...uma criança tola


Como se fosse fácil falar tolices, abriu a boca
AHHHHHHH
Nada saiu.
- Professora! Me explica como ser tolo?
Muito tristinho era seu semblante no instante do olhar dela
Compaixão assimilada, de lado foi posta
Racionalize a criança - salientou sua consciência
Uma dúvida pairava sobre a correção a ser feita.
Importa?! Não!
- Exagere menos, seu lindo! Tolice vem rápido a cada novo aniversário, porem não vista-se assim. Bom mesmo é ser normal.
Você morreria vermelho ao ver a altitude da atitude tomada pelo pequenino.
Aprumou-se, empertigado em seu poleiro de aluno, e desceu o tom uma oitava.
Conforme as palavras saltavam da sua boca feito peixinhos dourados fugindo do ralo, ia tirando sua roupa.
- Blá blá blá reticências
Falta pouco para que se adeque, estou orgulhosa. - insistia a consciência da Professora em informá-la. Ela concordava até que o pequeno rodou a bermuda por cima da cabeça. Algo estava fora do lugar...
Lá ia ele:
- blá blá blá...solenemente vos digo, amiguinhos, sou o docinho de minha mamãe, que se lambuza em redes sociais as custas de minha irretocável belezura. Sou ainda soldadinho de Deus, imaculado, prontinho pro front de batalha, igual no video game.
Sou euzinho ninguém menos que coisa alguma, mistura complicada entre as frustrações do papai e a saudade que mamãe sente de suas bonecas e da vida que nunca vai ter.
Amigos, o futuro nos aguarda! A cada visita do papai noel, um novo brinquedo. A cada desilusão, um novo post. Vamos ser felizes como as ovelhinhas e nossa professora!
No último suspiro do discurso, saiu correndo pelado pela porta da sala à fora com seus amiguinhos em seus  calcanhares e o som da sineta do recreio reverberando nos tímpanos de todos.
Uma lágrima escorria por baixo do olho esquerdo da Professora sem dar pista do sentimento que a gerou. Muito menos seu rosto ao olhar para o relógio na parede informando que já passara da hora...
...do que ela não sabia, mas tinha certeza que estava atrasada.

#01 Estilhaço


"...e o intuito, repare, nunca foi de faltar com a melancolia, ou melhor, a grandiloquência da tristeza que se fez cair naquele tão raro instante de fugaz sentimento semelhante, não tão diferente assim, de alegria. Não mesmo!
Amigos, o que vimos ali a pouco mal passou de um estilhaço de inadequação. Como uma atitude movida por bondosa motivação, porém deslocada de coerência, pode ser tão pertinente quanto um relógio de ponta cabeça?!
Navegando por tais águas concluímos da seguinte forma: há que se vigiar o sorriso de cada um, mesmo o individuo respeitando todos os limites específicos do seu quadrado. Há que se dar um basta às repetidas demonstrações de carinho proeminentes de fatos isolados, mesmo estando os fatos esvaziados de provas. Uma junta de delegados, de moral ilibada, deve seguir observando de longe possíveis excessos no comportamento de certos sorrisos. Não podemos admitir que sujeitos felizes continuem a se comportar e proliferar em nossa sociedade como coelhos.
Basta!"