terça-feira, 8 de abril de 2014

...o fim se aproxima

- Eu é que não vou ficar aqui parado enquanto o mundo se desencanta em areias movediças e pinturas a óleo

Pegou a escada, firmou bem no assoalho e subiu. Subiu no topo da montanha mais alta que seus pulmões podiam aguentar respirar. Suspirou e olhou pra baixo. Rios de pessoas queridas cortavam como veias seus belos campos de acertos e decepções. Ouviu um grito ao longe.

- E você, o que faz aqui?
- Estou pensando em fazer a maior avalanche que esse mundo já presenciou - respondeu de olhos abertos e cera nos ouvidos
- É o suficiente? É necessário acordar os segredos adormecidos por tanto tempo? Você é mesmo capaz de desmoronar? - a voz insistiu serena entre uma brisa e outra
- E quem duvida? Sou eu mesmo, Deus dos meus ventos e vontades. Sou eu mesmo o vilão que provoca a fúria do herói que sou. Eis me aqui pronto para odiar-me infinitamente em ação desgovernada. Minhas mãos sangram urgentes, querem rugir alto movimentos escandalosos. Eis me aqui, eu e meu ancião silêncio. Que jamais cale-se outra vez!

Em um movimento brusco pincelou o ar com seus braços em movimentos firmes. Doces eram as vontades, duras eram as exigências. O céu rachou-se ao meio com trovoadas invocadas - KBOOM! - Gritou seu coração lá do alto cansado da bagunça (outras histórias contam que foram assovios despreocupados com o fardo que se fora). Atingido em cheio pelo inverso da inércia, sentiu-se desamparado em sua própria fortaleza. O chão tremia de medo dele, parecia querer fugir para longe dos seus pés que fincavam os dedos na terra surrada do topo da escada.

- Que se façam vivos os meus erros. Levem embora todos os acertos sorridentes!

Tormenta, o Deus habitante do centro do seu peito toma forma à partir de seus gestos. É mais poderoso do que jamais imaginava. Gargalhou alto envergando sua coluna como faziam as árvores frondosas dos bosques de suas memórias. Era aquilo que sempre desejava. Causar tempestade, redemoinhos e furacões tão fortes que abalassem todos os mundos que encontrassem no caminho dos seus olhos. A escada volta a mover-se de forma irregular e perigosa. Dessa vez seus pés deram por encerrada sua íntima relação com a terra que pareceu sempre uma companheira inseparável.

- Está aqui minha obra! Contemplai o magnifico despertar das minhas cores! Que o mundo nunca mais volte a ser apenas o suor dos que dele dependem. Abro aqui as asas de uma nova aurora! Declaro encerrado o fim e proclamo o Eterno como nova lei. As amarras estão frouxas, o infinito nos aguarda para uma xícara de chá na penúltima esquina do universo.

A voz: - És louco, homem mundano? O que pensa fazer de ti em campos tão floridos e férteis? O que pensa ser a renovação é apenas o passado de um recomeço triste e acabado. Está repetindo o teu equivoco de amanhã. Enfadonho é teu nome, e Destino é tua prisão. Não percebe a redundância dos teus atos, humano?

- Não - retruca ele - Sei bem o que faço ao libertar-me dos sentimentos. São minhas feridas que te incomodam? São minhas cicatrizes que te fazem parecer ser eu incapaz? Não me julgue tolo! Sou o que serei sob domínio do que já fui. Estou morto mas vivo do reinício. Não sofro calado. Silencio no desespero e volto a cantar no lombo da prima luz de todos os dias! Eis de ser a explosão cósmica que cega a placidez do artista, conformado com sua excelência, fatigado do seu talento, mastiga as horas trabalhando por vil sucesso entre mortos de sede à beira do rio da vida. Chega! Um brinde a sedução da beleza, pois seus dias de placidez encerram sua contagem agora!

E com um movimento forte do seu coração expulsa a voz para o além. Tormenta desce forte a montanha contando aos 4 ventos catástrofe. No horizonte tudo cai, e sobe e explode em vida. O vazio chega atrasado para a festa e se senta sozinho num canto, ele sabe que logo chega a sua hora. Mais movimentos bruscos balançam a escada. E mais...e mais...e mais. Até lembrar que seus pés não tem asas, a pesar de solteiros e livres. Um aperto em forma de choque toma-lhe o corpo inteiro. E mais uma vez. Outro choque forte sacode-lhe o corpo. Os olhos vão enxergando o branco, a folha em branco.

- Está para acontecer. É a hora!

A escada despenca levando consigo seus pés que esqueceram seu compromisso vital com suas pernas, que por sua vez não querem abandonar seus quadris nesse momento de crise. Esses apelam para seu tronco que tem nos braços a força para reagir. Incapazes de relacionarem-se fisicamente com o ar passam seu insucesso à cabeça que avisa o resto do corpo em desespero "Lá vamos..."

tuuuuuuuuuuuuuuuuutu........tu.......tu.........tu........tu.......tu.....

- Dr.! Dr.! Recuperamos o paciente. Temos pulso. Pressão arterial voltando a normalidade.
- Parabéns equipe! Devolvemos à vida mais um homem!

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